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Palavra de origem árabe, azzelij, significando pequena pedra polida, o azulejo surgiu em Portugal no século XV, até meados do século XVI, tornando-se uma das marcas mais importantes da nossa identidade. Ao longo dos séculos foram surgindo diversas técnicas, cores e padrões, revelando-se até aos dias de hoje como uma das mais marcantes artes decorativas.

Em Torres Vedras é possível contemplar esta fantástica arte, recuando no tempo e fazendo uma viagem, onde somos arrebatados pela beleza dos azulejos hispano-árabes, pelos de composição em xadrez e enxaquetado de características geométricas, os de tipo “ponta de diamante”, passando pelo esplendor do barroco, pelos azulejos de “estampilha” e culminando no século XX.

Percorra esta rota, repleta de padrões e desenhos com matizadas cores, e sinta Torres Vedras através da descoberta de maravilhosas peças de azulejaria, presentes nas paredes dos edifícios e igrejas, numa perfeita ligação entre história e arte, em que as paredes falarão por si contando histórias pinceladas essencialmente em tons de azul e branco.

O presente roteiro corresponde ao centro histórico de Torres Vedras, passando por ruas e ruelas de traçado medieval, cuja toponímia ainda é visível em alguns dos painéis de azulejos que identificam as ruas e praças.

Ao longo do percurso os visitantes terão a oportunidade de [re]descobrir o centro histórico através dos azulejos que decoram igrejas e fachadas de alguns edifícios da antiga vila.

O percurso tem início na Praça 25 de Abril, mais propriamente na Igreja e Convento de Nossa Senhora da Graça. Trata-se de um monumento de estilo maneirista com uma riqueza azulejar ímpar. Na galilé somos agraciados por painéis de “albarradas” emoldurados em composições barrocas representando vasos com flores, meninos e golfinhos.

Já no interior do templo, junto à porta de entrada, as paredes são forradas por um tapete de laçarias em tons de azul e amarelo emoldurado por um friso com motivos geométricos do século XVII. Avançando pela nave central, eis que somos surpreendidos pela existência de magníficos azulejos historiados (século XVIII) na Capela do Senhor dos Passos, representando cenas da Paixão.

Saindo da igreja e entrando no claustro do convento, atual Museu Municipal Leonel Trindade, ficamos arrebatados pelo magnífico conjunto de azulejos, representativos do “ciclo dos mestres”, compondo possivelmente o maior conjunto de azulejos historiados do século XVIII a nível nacional, com uma narrativa única, retratando a vida de D. Frei Aleixo de Menezes (1559-1617), antigo prior deste convento.

Ao sair do edifício, atravessamos a Praça 25 de Abril em direção à Praça da República. Aqui, seguimos pela Rua Serpa Pinto, antiga Rua da Misericórdia, para visitar a Igreja da Misericórdia, que nos surpreenderá pela riqueza da sua decoração, onde o azul e branco dos azulejos contrastam com o dourado do altar e com os mármores de diferentes cores que revestem este pequeno templo barroco.

Ao longo da nave é possível admirar silhares de azulejos do século XVII, de iconografia profana. No cruzeiro, as paredes são adornadas por dois grandes painéis de azulejos, representando Nossa Senhora da Piedade na Deposição da Cruz e do lado oposto, à direita, Nossa Senhora da Misericórdia.

Continuando a descer a Rua Serpa Pinto, os olhares recaem agora sobre os revestimentos de fachadas com azulejos de “estampilha” do século XIX, presentes nos números 9 , 18 e 21.

Virando à esquerda na Rua do Terreirinho e seguindo em frente avista-se ao longe (à esquerda) a Igreja de Santiago. Façamos um pequeno desvio e visitemos este templo, cuja construção primitiva remonta provavelmente ao reinado de D. Afonso Henriques, tendo sofrido uma reconstrução no século XVI.

No interior, merece destaque a capela-mor, revestida com grandes silhares de azulejos setecentistas onde são visíveis elementos referentes à ordem de Santiago.

Volvendo à Rua do Terreirinho, siga pela Rua dos Celeiros de Santa Maria, antiga Rua da Judiaria, em direção à Rua de Tráz do Açougue onde será presenteado, numa das fachadas de um edifício à direita, por um singelo Registo setecentista exibindo Nossa Senhora do Rosário. Este tipo de manifestação de devoção popular tornaram-se mais banalizados a partir de 1755, com a grande reconstrução pombalina.

Continuando o nosso percurso, deparamo-nos, na Rua Capitão Luís Bôto Pimentel (antiga Rua do Castelo) com um edifício totalmente revestido a azulejos de “estampilha” do século XIX em tons de castanho, branco e azul.

Continuamos o nosso périplo e já nas imediações do Castelo de Torres Vedras salta-nos à vista um outro edifício com a mesma tipologia de azulejos do anterior, mas em tons de verde e branco, cujos frisos são ornamentados com motivos florais.

Entre na fortaleza e suba a escadaria em direção à Igreja de Santa Maria do Castelo, uma das mais antigas das quatro matrizes da cidade, onde são visíveis os únicos vestígios românicos existentes no concelho (pórtico principal e lateral). Já no interior, eis que somos presenteados com azulejos de padrão seiscentistas na capela batismal e por silhares de azulejos do tipo “D. Maria”, datados de 1790, que forram a nave do templo.

Aproveite para subir mais um pouco, em direção ao palácio dos alcaides e aprecie a fantástica vista que tem sobre a cidade e arredores.

Visite o Centro de Interpretação do Castelo de Torres Vedras e aprenda um pouco mais sobre a história deste monumento e aprecie os diversos achados arqueológicos expostos, entre os quais diversos fragmentos de azulejos de diferentes épocas: hispano-árabe e de corda seca (século XV); hispano-árabe e de aresta (século XVI); azulejo para enxaquetar (séculos XVI-XVII); azulejo retangular e de padrão (século XVII); azulejo figurativo (século XVIII).

Saindo do castelo, descemos em direção à Rua Capitão Luís Bôto Pimentel, virando posteriormente à direita na Rua Roque Ferreira Lobo (antiga Rua da Praça). Aqui, no número 4, surge-nos um singelo edifício cuja fachada se destaca pelos seus coloridos azulejos de “estampilha” do século XIX, em perfeita harmonia com o ferro forjado das varandas.

Avançando, eis que entramos na Praça do Município onde avistamos dois edifícios com fachadas revestidas de azulejos do século XIX, onde o verde é a cor predominante.

Seguindo pela Rua Miguel Bombarda, surge-nos à direita um painel decorativo datado de 1959 e assinado por Daciano. Um pouco mais à frente recuamos novamente ao século XIX ao observarmos os azulejos de “estampilha” em tons de azul e branco que revestem a fachada do edifício número 2.

Continuando o percurso, ao chegar ao Largo de S. Pedro, viramos à esquerda na Rua 9 de Abril (antiga Estrada Real N.º 61) onde nos salta à vista um magnífico painel decorativo de Rafael Calado, datado de 1962. Observe bem os pormenores aí retratados e deixe-se viajar no tempo imergindo no cenário aí representado.

Regressando novamente ao Largo de S. Pedro, desvie o olhar para a esquerda e admire o revestimento do edifício existente na lateral da igreja, composto por azulejos de “estampilha”.

Aproveite para visitar uma das mais antigas igrejas de Torres Vedras. A Igreja de São Pedro acolhe no seu interior um notável conjunto de azulejos de diferentes estilos e épocas.

As paredes da nave são decoradas com azulejos enxaquetados (composição em xadrez) verdes e brancos (século XVI) e de azulejos de padrão (século XVII) que ladeiam o guarda-vento. Na nave central é possível observar-se quatro cartelas com atributos de São Pedro: o barco, a espada cortando uma orelha, o galo e os grilhões.

Junto ao altar de Nossa Senhora da Conceição, existem silhares figurativos setecentistas de temática profana, e desse mesmo período é possível observar, na capela da Senhora da Boa-Hora, silhares representando passos da vida de Nossa Senhora: Anunciação, Deposição de Cristo, Assunção, Casamento e Fuga para o Egito.

Na capela-mor as paredes são revestidas de azulejos seiscentistas de ponta de diamante, com cercadura de “dente de lobo”, e um rodapé de azulejos de tipo tapete do mesmo período.

Após visita à Igreja de São Pedro, tome novamente a Rua 9 de Abril, mas desta vez rumo a Sul onde encontra dois edifícios contíguos cujas fachadas estão revestidas com azulejos onde o verde predomina. Em ambos os edifícios são visíveis azulejos com motivos florais.

Continuando a percorrer a rua, surge mais um edifício com a fachada revestida a azulejos de “estampilha”, desta vez em tons de azul, branco e castanho, delimitando as portas e janelas [38]. O percurso termina a uns escassos metros com azulejos de temática geométrica atribuídos a Eduardo Nery (1972), através de um padrão moderno e de grande originalidade, desenhado para o “Concurso ESTACO”, designado a premiar os “melhores desenhos de azulejos decorativos”.

Apesar não ter vencido o concurso, Nery deixou-nos um azulejo com extraordinárias propriedades plásticas e matemáticas, cujo desenho modular, em dois tons de azul e um ocre, permite um infindável número de combinações.